Se inscreva agora mesmo no meu canal no Youtube para não perder nenhum vídeo: clique aqui.

Baixe o arquivo PDF aqui.
Escute no Spotify aqui.

Transcrição:

E aí, galera do “Time to Learn Portuguese”. Aqui é o Fabrício Carraro de novo, e o vídeo de hoje vai ser especial. É um bate papo bem legal com um amigo meu que é professor de português também. Há muitos anos ele trabalha com isso, e eu queria chamar ele aqui para dar dicas para vocês, explicar as coisas que os estrangeiros mais erram falando português, e esse meu amigo é o Murillo, eu vou chamar ele aqui.

  • E aí, Murillo, tudo bem?
  • Opa, tudo bom, muito obrigado.
  • Queria que você primeiro se apresentasse um pouco, né? Então, fala quem é você, de onde você é, onde você mora e o que você faz da vida.
  • Muito bem, meu nome é Murilo, sou de Goiânia e atualmente moro aqui mesmo. E já há mais ou menos 8 anos sou professor de português como língua estrangeira.
  • Bem legal, cara. E bom, começando esse nosso bate papo aqui. Oito anos, né? Bastante coisa. Você fez tudo isso online, ou você dá aulas privadas também pessoalmente?
  • Sempre online, a modalidade sempre foi online, então eu tenho zero experiência com sala de aula.
  • É mais fácil, você acha?
  • Eu não consigo imaginar ensinar uma língua em sala de aula, principalmente com um grupo, porque geralmente todo recurso hoje em dia, ele pode ser muito bem moldado à forma online, e é muito mais fácil, muito mais acessível, muito mais dinâmico. Então, eu acho que sim, eu acho que seja mais fácil.
  • Entendi. E uma pergunta que é muito comum, né…. Eu queria saber de onde são a maior parte dos seus alunos. São de países que falam espanhol, ou são da Europa, dos Estados Unidos, como é que funciona isso?
  • Bem legal essa pergunta. Olha, eu vou ser bem honesto, depende muito. Eu já passei… oito anos, já passei por várias etapas, dependendo até do seu preço que você cobra, você vai ter estilos de estudantes diferentes. Hoje, atualmente, a maioria pesante, novente por cento, é de pessoas que vêm de países de língua inglesa, principalmente Estados Unidos e Inglaterra.
  • Nossa, é surpreendente, né? A gente imagina que pelo espanhol ser uma língua mais próxima, ou o italiano talvez, seria mais desses lugares, né? Mas não.
  • Sim. Antigamente, quando eu comecei, o meu preço era um preço mais acessível, vamos dizer assim. Realmente eu tinha estudantes de vários países da América Latina, também da Espanha, França, Grécia, África, do continente africano, mas hoje está mais concentrado nos países de língua inglesa.
  • Interessante, legal. Mas eu imagino que tem uma diferença de você ensinar português para alguém que fala espanhol, por exemplo, e ensinar para alguém que fala inglês como língua nativa, né?
  • Sim, sim, muita diferença, são dois mundos. Tem que ser tratado como dois mundos, mas é bem interessante que, principalmente do lado dos estudantes americanos, muitos já vêm com uma bagagem do espanhol. Ou sendo pessoas que já tiveram algum contato básico com a língua, que aprenderam na escola, na época de escola, etc., ou que já realmente têm um nível muito avançado de espanhol e que agora estão aprendendo português. Então acaba facilitando e pegando vantagens dos dois mundos, né? Do mundo anglofalante e do hispanofalante.
  • Legal. E quais são as principais dificuldades que os alunos em geral têm? Você pode fazer a diferença, se você quiser – alunos que falam já alguma língua latina e alunos que falam línguas de outros países.
  • Sim, sim, também eles compartilham das mesmas dificuldades muitas vezes. As pessoas que já falam uma língua latina, principalmente o espanhol, a maior dificuldade é não falar o espanhol enquanto estiver falando o português. Eles têm essa tendência de achar que, por serem línguas muito parecidas, que a todo tempo eles podem ficar relaxados e simplesmente usar o espanhol como um refúgio, né? Então, trabalhar para não falar o “portunhol” é uma das coisas, assim, na verdade, mais difíceis, leva muito tempo. Já a pessoa que já vem somente com aquela língua nativa, o inglês ou mesmo o alemão, que não tem uma língua latina como…. de antes, de bagagem…geralmente a dificuldade maior é entender a lógica da língua em questões de estrutura, gramática, entender esse mundo de conjugações de tempos verbais, por exemplo. Então é um pouco assustador para eles.
  • Principalmente o subjuntivo, eu imagino, né?
  • Subjuntivo… é interessante, que o subjuntivo, ele sim, é uma novidade. Então para… mas uma vez que o estudante, uma vez que ele entende a lógica, o subjuntivo se torna fácil, mas eu vou te dizer que, nesses oito anos de experiência, a questão gramatical que você ainda vê muitos erros, principalmente de estudantes ainda avançados, é a diferença básica do Pretérito Perfeito, Pretérito Imperfeito, e também dos verbos abundantes no particípio, né? Por exemplo, quando usar ‘preso’ e ‘prendido’, ‘aceito’ e ‘aceitado’. Então, eles ainda têm sim muitas dificuldades em usar em um nível mais avançado, ainda essas duas categorias da gramática.
  • Eu acho que a questão do Pretérito Perfeito e Imperfeito, para nós brasileiros é natural e fácil, mas a dos verbos abundantes é uma coisa que a gente mesmo tem problema com isso, né?
  • Exatamente, exatamente, então os verbos abundantes para nós também é um grande problema, mas o Pretérito Perfeito e Imperfeito é um pouco frustrante, porque muitas vezes a regra não se aplica. Então, se torna… precisa de muita, muito envolvimento, muita imersão na língua para realmente ter esse senso, assim, já naturalmente. E uma outra questão que também acho que é uma grande dificuldade, é a falta de interesse do estrangeiro de usufruir dos recursos da mídia brasileira para aprender a língua portuguesa, e consequentemente o português coloquial se torna um grande desafio para eles.
    Eu sempre digo que o português como língua padrão, ela é muito fácil de ser aprendida, para fins de comunicação. Então, um estrangeiro que quer aprender o português para se comunicar, passar a sua mensagem, ter uma conversa decente, viajar pelo Brasil, é uma língua fácil de ser aprendida em um tempo até razoavelmente pequeno, curto, vamos dizer assim. Mas para você chegar naquele nível que o estrangeiro pode conversar com a “Dona Maria” e o “Seu Zé”, os típicos brasileiros, né? Naquela forma bem natural deles, é um… Acho que seria também o outro grande desafio do estrangeiro, porque o português coloquial se difere muito do português da norma culta, como todas as línguas. A diferença é que os brasileiros têm dificuldades de se adaptarem aos estrangeiros, de mudarem a sua forma de falar para adaptar ao estrangeiro. Então, quando eles vêm para o Brasil e caem no mundo real aqui, a linguagem coloquial se torna um grande obstáculo
  • Sim, sim, e você entrou nesse tema agora, ném de entender, compreensão, isso tem também a pronúncia, né? Eu queria saber duas coisas. Primeiro: você muda a sua pronúncia para falar com os estrangeiros durante as aulas?
  • Tem que mudar. Eu não diria mudar a pronúncia, eu acho que não mudo minha pronúncia, eu mudo a minha entonação. Eu articulo mais, eu evito, dependendo, né, do estudante, se eu tenho um estudante que é iniciante e etc., eu evito fazer aquelas “conexões”, então eu separo cada palavra, que um brasileiro me escutando, às vezes vai achar que não é natural, ou até mesmo que eu não seja um brasileiro. Que já acontece muitas vezes. Eu tenho alguns vídeos no YouTube, que já me entrevistaram e etc., e que falam: “Não é brasileiro, esse rapaz não é do Brasil, de onde ele é, Portugal?”
    E você acaba acostumando (com) isso no seu dia-a-dia também, porque são anos e anos fazendo essa adaptação e que acaba interferindo sim.
  • E a segunda pergunta é: como você lida com essa questão, agora não é nem só da pronúncia, mas de sotaque, né, por exemplo, o sotaque americano, ou o inglês, eles têm alguns problemas, como: a gente tem o “rolled R”, que eles não têm, e essas coisas que eu imagino que eles queiram melhorar, que eles queiram desenvolver. Como você lida com isso, para melhorar esse sotaque deles?
  • Interessante isso, porque embora os dois países tenham como língua nativa o inglês, Inglaterra… principalmente Inglaterra e Estados Unidos, é muito interessante que o inglês britânico, ele consegue desenvolver uma pronúncia melhor, vamos dizer assim, no português do que o próprio americano, porque o americano, quando ele está no começo, quando ele não trabalha, quando ele não investe muito na aprendizagem da
    pronúncia, ele pode ter uma pronúncia muito carregada, um sotaque muito carregado ao falar português. O britânico já não. Mas interessante é que os americanos sabem enrolar o ‘R’ na forma brasileira, eles só não percebem isso, quando eles falam palavras como “better”, “hotter” e coisas assim, eles estão enrolando o ‘R’. Então, sempre quando eu vou ensinar esse ‘R’ enrolado do português, eu sempre falo: “Olha, você, nessas palavras, as palavras em inglês, você enrola o seu ‘R’, mas você não se dá conta disso, então tente trabalhar nisso.” A gente faz algumas práticas orais e eles acabam vendo que é muito fácil, na verdade, enrolar o ‘R’.
  • Perfeito, muito interessante, Murillo! Por hoje é isso, cara. Acho que foi um bate papo curto, mas bacana. Eu vou convidar o Murillo aqui para o canal mais vezes no futuro, se ele topar, é claro.
  • Claro, sempre, sempre. Muito obrigado.
  • Obrigado galera, e como sempre, segue a gente lá no Instagram e aqui, claro, no YouTube, né, no “Time to Learn Portuguese”.
  • Até a próxima! Tchau tchau.
  • Até mais! Tchau tchau.