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Transcrição:

E aí, galera do “Time to Learn Portuguese”.  Aqui é o Fabrício Carraro de novo, e hoje, o conteúdo de hoje vai ser um vídeo muito especial que eu queria fazer para vocês, que é conversando com um estrangeiro que aprendeu português, mas aprendeu português em um nível muito, muito, muito bom mesmo, e eu queria mostrar para vocês o português dele e também perguntar para ele o que que ele fez, como que ele desenvolveu, que métodos ele usou para levar o português dele nesse nível tão bom, que é um grande amigo meu, o Andy. Eu vou chamar ele aqui para a tela agora.

– E aí, Andy, tudo bem?

– E aí, beleza, tranquilo?

– Tudo ótimo, cara. Então, eu queria que você contasse um pouquinho da sua história com o português, né, porque você é americano, né? De onde você é exatamente nos Estados Unidos?

– Eu cresci no estado de Maryland e fiz a faculdade em Pittsburgh. Aí depois, assim que terminou, na verdade eu fiz um intercâmbio. Na verdade, isso já intercala um pouco com a história, então já vou direto, assim.

– Beleza!

– Eu fiz um intercâmbio quando eu estava na faculdade, que eu fui para São Paulo. Eu fui fazer um estágio na “Dow Química” e naquela época eu não sabia nada, nada, nada. Eu tive 10 dias de português para sobreviver, e eu fui, tipo, na marra, assim, e sem saber nada, e durante os três meses que eu estava lá, eu não fiz nenhum curso especial lá. Na verdade, era uma coisa que eu fazia só saindo para ‘happy hour’ e bares e coisas assim com os colegas de trabalho.

E no final das contas, quando eu saí de lá, eu lembro que eu tive a possibilidade de falar com um taxista que estava me levando, cem por cento em português. Obviamente eu errava bastante coisa. Eu lembro que, por exemplo: “Ontem eu estava em um bar”, mas eu ia dizer, “Ontem eu era em um bar”, ou alguma coisa assim, sabe?

– É um erro muito comum, né? De estrangeiros em português.

– Mas todo mundo conseguia entender e essa era a coisa mais importante, que tipo, ninguém nunca tirou…bom, às vezes tirava sarro, né, quando você falava alguma coisa que errava muito. Aí sim, as pessoas brincavam um pouco mais, mas sempre me ajudavam, entendeu? E me corrigiram, esse que foi o ponto essencial para mim.

– Sim… E quanto tempo foi que você ficou nisso?

– Então, a primeira vez que eu fui, eram três meses.

– Três meses.

– Aí, eu fiquei… Isso já faz mais que uma década, já. Esse é outro ponto importante, né? Isso… A maneira que eu falo hoje em dia é depois de uma década com contato com a língua estrangeira, para mim, que é o português.

– Mas eu conheci você no Brasil, quando? Acho que uns seis anos atrás, talvez, mais ou menos.

– Seis ou sete, é. Porque eu me mudei…

– E você já falava muito, muito bem. Já falava perfeitamente quando eu te conheci.

– Perfeitamente eu nunca vou, porque ainda hoje em dia, depois de 11 anos, eu ainda erro coisas que eu considero básico, né, de falar, vamos supor… “O dia”, eu não falo “A dia” porque foi uma das coisas mais importantes que eu aprendi, né, que é “Bom dia”, não é “Boa dia”.

Aí… Mas tem uma música do Zeca Balero, que ele fala…O título da música é “Minha Tribo Sou Eu”. Eu lembro que a primeira vez que eu escutei essa música, eu pensei: “Cara, como ele errou uma coisa tão básica de português, assim?” Mas, na verdade, eu descobrir que “tribo” é feminina, eu não sabia disso, é uma palavra feminina. Aí, eu descobri isso com a música, entendeu?

– Sim… é, no geral é bem fácil, né? A maioria das palavras que terminam com ‘o’ são masculinas, e que terminam com ‘a’ são femininas, mas existem essas exceções. “A mão” também, né?

– Isso, é. “A mão” é um ótimo exemplo também. Para mim, sempre quando eu estava aprendendo uma coisa nova, eu falava alguma coisa errada, os brasileiros me ajudaram a corrigir isso. Isso foi essencial para mim, sabe? Eu lembro que até uma das outras coisas que eu fazia, era…entre a primeira vez que eu fui para o Brasil, que eram os três meses, os três primeiros meses, eu fui também começar a seguir pessoas no Twitter. Pessoas que tuitavam, tipo…eu seguia pessoas que tuitavam sobre a “N.F.L.”, porque era o que eu gostava, mas as pessoas estavam falando em português, sabe?

Então, isso era uma coisa muito interessante para mim, porque era uma coisa que eu tinha bastante conhecimento, mas eles falavam em uma maneira diferente. Eles falavam de uma… Era como se fosse… o mundo virou diferente por conta da língua, entendeu? Porque a sua percepção sobre o mundo e a maneira que você entende como as coisas estão acontecendo têm uma grande influência da língua que você está falando também. No Brasil, você dá os abraços para as pessoas, você tem beijo no rosto, que já aqui nos Estados Unidos é uma coisa mais distante, né?

– Sim, sim. Não só a língua, mas também a cultura, né, você tem que aprender.

– Isso, exatamente. Isso. Eu acho que eu aprendi mais a cultura do que a língua no início. Mesmo sem falar nada, eu sabia como fazer as normas, e aquela primeira vez também era Copa do Mundo, então eu aprendi um monte de palavrão só de escutar a pessoa xingando nos bares e tudo mais.

– Isso é bem comum no Brasil. Não sei se é comum nos Estados Unidos xingar tanto quando vocês estão assistindo algum jogo de futebol americano, por exemplo.

– Sim, é, com certeza. Eu acho que em quase todos os países. Talvez tenha algum ou outro que é reservado, mas quando eu fui para a Copa na Rússia, uns…o quê? Dois ou três anos atrás, eu aprendi umas vinte palavras em russo e quinze são palavrões.

– Sim, sim. Mas bom, voltando lá para esse começo, né, que você falou. Você conseguiu falar com o taxista só em português, mas o seu nível ainda não era tão bom, como você disse, né? E aí, depois, você voltou para os Estados Unidos depois desses três meses, foi isso?

– Foi. Eu fiquei porque estava entre o meu segundo e terceiro ano da faculdade. Aí eu tive que voltar para fazer o terceiro ano. Fiz o terceiro ano e eu acabei voltando mais uma vez para o Brasil. Eu fiz um estágio em Brasília. Fiquei dois meses e pouco na embaixada americana. E foi uma experiência muito legal também, só que era um português formal, que eu tinha zero conhecimento sobre o português formal. O primeiro e-mail que eu recebi, no final estava escrito:

“Atenciosamente”, e eu: “O que que significa isso?”

Eu não sabia nada, nada, nada. E era sempre falando com… Porque era um monte de pessoas voltada da área de política, militar e tudo mais. Então, você tem todos os títulos que você tem que colocar também, que não é só simplesmente o “senhor”, sabe? Era “o senhor vereador sei lá o que, sei lá o que”, entendeu?

– Sim, sim, sim. E nessa ida aí que você ficou fazendo esse estágio, você ficou quanto tempo?

– Dois meses.

– Dois meses, então é só pouco e pouquinho,  né? Que você ficava.

– Pipocando. É, eu ficava pouco tempo por conta da… Porque era, tipo, as minhas férias do verão, né? Embora que em São Paulo fazia bastante frio, obviamente, porque era de maio a agosto que eu estava lá. Em Brasília, na verdade, estava melhor, porque em Brasília não tem tantas diferenças de inverno para o verão. Tem quente e tem mais quente, né? Aí eu fiquei na época “quente” só.

– Que estava mais acostumado, estava mais tranquilo.

– É, estava. Estava igual mais ou menos o verão daqui, só que estava menos úmido. Era uma coisa que eu gostava, porque como lá é área da caatinga… cerrado, né? Aí não estava tão úmido. Era como se fosse um Arizona da vida, né?

– Mas aí, você continuava os seus estudos de português quando você voltava para os Estados Unidos, ou você deixava quieto? O que que você fazia para manter o nível, ou para evoluir, talvez, ou não evoluía?

– Não, então… Obviamente as minhas experiências no Brasil ajudou muito, só que eu ainda errava muito nessas questões de gramática, concordância e tudo mais. Aí eu fui… Quando eu voltei de Brasília, eu tinha um semestre… Na verdade, o último semestre da faculdade, que eu tinha uma aula que eu podia escolher o que eu quiser, porque era um eletivo, assim. Eu não precisava fazer uma coisa específica. Aí, eu fui falar com a diretora do departamento de português, ela é de Recife.

Aí, eu conversando com ela: “Ahh, e aí, o que você acha, eu consigo pular o nível um, nível dois, entrar no três ou quatro?”

Aí ela falou: “Não.”

E eu: “Ué, mas eu estou falando com você em português. O que é isso? Como assim?”

Aí ela falou: “Não, você já pulou o três e quatro também”.

E eu fiquei: “O quê? Como assim?”

Aí ela falou: “Ah, a única coisa que posso te oferecer é o último nível de português, que é redação e gramática”.

Aí eu falei: “Ah, não, mas isso é importante para mim, né?”

Aí, eu cheguei na aula no semestre seguinte, o último semestre da faculdade para mim, e a professora, que não era a mesma da diretora, era uma professora brasileira também. Aí, a gente fez, sei lá…uma redação, a primeira redação do semestre e eu escrevi um que estava…sobre a floresta, alguma coisa assim aleatória.

Aí, quando ela devolveu o papel, parecia que estava sangrando de tantas marcas vermelhas que tinha. Aí, ela nem me deu uma nota, de tão ruim que era. Aí, eu cheguei lá, e tipo, ela escreveu assim: “Vem falar comigo no final da aula”.

Aí, eu fui falar com ela, e foi em português, e ela assustou, ela falou: “Como assim, você escreveu isso?”

Eu falei, “Sim.”

Ela: “Não, mas está tudo errado isso! Você está falando perfeitamente comigo agora.”

Falei: “Sim, mas escrevendo é uma coisa.” E tipo, tem lá as concordâncias, tem várias palavras, várias coisas que eu não sabia, sabe?

Aí, ela falou: “Ah, então você morou no Brasil, né?”

Eu falei: “É, morei.”

Ela falou: “Por isso que você consegue falar, mas não consegue escrever.”

Então eu era analfabeto, na real.

– Sim, sim, sim. Interessante! Eu não sabia dessa história.

– É. Aí, na real eu continuei o semestre inteiro aprendendo e tal, mas ela já falou: “Olha, eu vou dar um…” – como é que fala? – ela falou: “Eu vou dar uma ajudada na sua nota, porque eu sei que você não está tentando, tipo, pegar…” a gente tem “minor”, né, nos Estados Unidos. É um…é como se fosse…não é a sua especialização, é uma mini-especialização, né? Aí, como era só uma classe, uma aula, ela falou: “Ah, de boa, eu te dou uma ajudada na nota”, e no final das contas eu levei, tipo, sei lá, um 7 de 10, alguma coisa assim.

– Legal. E aí quando você terminou a faculdade você queria vir para o Brasil, ou não? Ou queria continuar nos Estados Unidos?

– Não. Eu, dentro de um ano eu fui. Eu fiquei menos que um ano aqui depois da faculdade. Me mudei para São Paulo, que foi mais ou menos na época que a gente se conheceu, e eu fiquei…deixa eu ver…de 2013 a 2018 morando quase o tempo todo lá no Brasil.

– Legal… E bom, qual que é a sua dica então para quem já fala um pouquinho de português e quer realmente melhorar, ou para quem fala muito pouco, mas quer começar a entender melhor os brasileiros também, ou falar tão bem como você fala, com…você fala praticamente sem sotaque. Também é uma coisa que as pessoas costumam ter muito problema. Especialmente americanos.

– Sim, sim, sem dúvidas. Eu acho que o essencial é não se preocupar com o sotaque, na verdade. O sotaque vai depois de um tempo, sabe? E mesmo se nunca tiver um sotaque perfeito…eu nunca vou ter, vai ter várias coisas que eu falo mais puxado para o americano, mesmo que a maior parte das coisas, talvez tenha uma sonorização mais natural, sempre vai ter uma palavra ou outra que atrapalha. Então, não se preocupe com o sotaque, se preocupe em passar a imagem do que você quer falar, entendeu?

Então você quer falar: “Ah, ontem eu saí para o bar e me diverti”

Você fala, “ontem, bar, divertido”, pronto! Você nem precisa falar nenhum verbo no início. Então, não se preocupe com isso, porque o brasileiro, querendo ou não, o brasileiro é muito aberto quanto a isso, para estrangeiro que está aprendendo português. Eles vão falar para você, anos antes que você realmente fale em português bem, eles vão falar para você: “Nossa, você fala português muito bem”. É mentira, tá? Você não fala português bem, mas eles estão falando isso porque eles estão entendendo a imagem do que você está querendo passar, entendeu?

E a outra coisa que eu diria é: se joga na cultura! Você tem que entrar na cultura para realmente

aprender português, porque, por exemplo, ninguém fala, “E aí, como vai?”, a gente chegando…é

igual o que eu falei para você quando eu cheguei. Eu falei: “E aí, beleza?”, todo mundo fala isso. Isso é coloquial, não é formal. Você nunca vai aprender isso na aula. Você vai aprendendo chegando no Brasil, falando com brasileiros, entendendo que essa é a maneira que as pessoas se comunicam, né?

Você não fala “muito obrigado”, você fala “muito obrigado”. Você junta os ‘o’s, o final de ‘muito’ e o início de ‘obrigado’, é junto. Aí, essas são as coisas que você vai aprendendo na prática, mas se jogando na cultura. Então, escute música brasileira, assiste filmes brasileiros, até que dá para assistir algum, alguma programa ‘besta’ que…”algum” ou “alguma”? Tá vendo?

– Algum.

– Algum programa ‘besta’ que tem na televisão, só para entender um pouco mais o que está rolando.

– E no YouTube também hoje em dia, né?

– No YouTube, é. Eu lembro que um dos primeiros vídeos que eu assisti, que eu achei muito engraçado, eu achei o máximo, porque eu estava entendendo o português bem o suficiente para aprender uma piada, que era “Porta dos Fundos”. Se você não conhece, vai lá procurar no YouTube. Tem centenas, centenas, talvez milhares de vídeos até agora, né? Porque 10 anos atrás eles estavam produzindo. Aí tem uma bem, bem antiga, que inclusive eles fizeram uma nova versão, que é uma…que fala sobre nomes nas latas de Coca-Cola, você lembra dessa?

– Lembro, lembro.

– É sensacional! É gênio esse vídeo! Então, procure esse vídeo, se chama “Coca”, que está no YouTube. E como eu falei, deve ter uns 10 anos já, talvez 8, vai. Mas é muito bom para aprender o português com esses vídeos, porque são rápidos, eles falam rápido, mas você vai aprendendo.

– E tem uma coisa legal também do canal do “Porta dos Fundos”, que eles têm legendas. A maioria dos vídeos deles têm legendas em português e em inglês, então se o seu nível já é um pouquinho maior, você pode seguir as legendas em português mesmo, mas se o seu nível for um pouquinho mais baixo, você pelo menos… você vê a primeira vez com a legenda em inglês e tenta assistir a segunda vez, terceira, quarta, com a legenda em português, fazendo as associações.

– Na verdade, na minha época não tinha isso, mas é bom… E também na Netflix tem várias séries que estão em português, dá para você colocar… Ah, e outra coisa que eu assistia era, por exemplo, “Procurando Nemo”. Eu assisti dublado em português. Só que como eu assistia isso como criança, eu lembro das falas, né? “Peixes são amigos, não comida”. Aí era fácil para aprender as coisas, porque você já sabe a letra e as falas do filme, né?

– Sim, sim, sim. Maravilha, Andy. Eu acho que a gente já está batendo o nosso tempo aqui. Não quero que esse vídeo fique longo demais, mas muito obrigado pela sua participação, e espero que vocês que estão aí assistindo se inspirem no Andy para aprenderem português também e levarem ao próximo nível. Você quer dizer alguma coisa?

– Eu que agradeço e boa sorte aí gente, não é tão difícil como vocês pensam agora no início. Força na peruca!

– Valeu.

– Obrigado, tchau.