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Transcrição:

E aí, galera do Time to Learn Portuguese. No episódio de hoje, mais do que especial, a gente vai ter uma falante não nativa de português, mas que fala português. Ela é a Maria do Español con María. Deixa eu chamar aqui pra tela comigo.

– Como que você tá, Maria?

– Muito bem, e você?

– Tudo bem, tudo ótimo. Eu queria contar pra vocês como começou, na verdade, o meu contato curto com a Maria, que foi um dos últimos vídeos que eu fiz aqui pro canal com os falantes de espanhol, de italiano e de francês, pra ver se eles conseguiriam entender o português falado por mim, né, falado por um brasileiro. E eu chamei, convidei a Maria, foi uma das pessoas que eu convidei, e ela me disse: “Mas Fabrício, eu já falo português!”, e eu falei: “Ah! Então não faz sentido, né?”.

E aí, eu fiquei muito interessado, eu falei: “Pô, que legal! Você podia participar um dia do canal e contar a sua história”. Então, conta pra gente, Maria, de onde que você é, o que que você faz da vida e como você aprendeu português e por quê.

– Perfeito! Então, o primeiro que quero falar é obrigado a você pelo convite e obrigado a todos por estar vendo esse vídeo. Então, me desculpa, porque eu falo português, mas há sete anos que eu não falo, tipo, no dia a dia, então, pode estar meio que esquecido um pouco.  Então, por que que eu falo português? Eu não sei como explicar isso, eu não tenho uma razão, mas eu sempre me senti meio que brasileira, sabe?

Eu sou colombiana, mas eu sempre tive essa curiosidade pelo Rio de Janeiro, pelo Brasil todo, mas especialmente pelo Rio de Janeiro. Eu jogava voleibol de criança e eu falava pra minha mãe que eu queria jogar vôlei no Brasil. Eu acho que essa foi a minha primeira vez que eu tive, assim, meio que concepção do Brasil, foi porque eu assistia Discovey Kids, o canal, e eles fizeram uma entrevista com* uma jogadora de voleibol e ela era brasileira. Então, isso ficou aqui na minha mente.

– Você lembra quem era?

– Não, não sei não. Mas, tipo, foi vinte anos atrás, uma coisa assim. E ela falava espanhol, mas falava com sotaque, porque a língua dela era o português. Então, eu pensei: “Que legal, o Brasil é (bom) de vôlei”, então, acho que pelo voleibol, foi que eu fiquei, assim, meio com curiosidade.

E eu lembro que eu até falei pra minha mãe, de criança, tipo: “Mãe, o que eu vou fazer quando tiver uma partida de futebol entre a Colômbia e o Brasil? Pra quem eu vou torcer?”, e é bem legal essa história aqui, porque eu morei no Rio no ano de* 2014, no ano da Copa, e teve a partida mesmo de Brasil e Colômbia.

– E pra quem você torceu?

– Eu torci para a Colômbia, mas no fundo, tipo, eu queria que ganhasse o Bras… eu queria que ganhasse a Colômbia, mas achava bom que ganhasse o Brasil, porque era a Copa do Brasil.

– Sim, sim. E foi a partida quando destruíram o Neymar.

– Não. Foi a partida quando o Yepes fez o gol e o árbitro não falou “é gol da Colômbia”, não? Bom, então, acho que assim foi, e quando eu entrei… eu fiz jornalismo na faculdade e desde que eu comecei a faculdade, eu sempre quis fazer um intercâmbio. Então, eu podia escolher* diferentes países do mundo.

Eu falava francês também, porque eu estudei francês. Então, tipo, todo mundo pensa em ir pra* Europa, então, a França, mas eu falei: “Pô, eu não quero morar num país frio, eu não quero morar num país sem frutas, eu não quero morar num país, tipo, que não seja tropical”. Então, olhei as possibilidades e falei: “Bom, vou morar no Brasil”, mas eu não falava português, eu só queria morar no Brasil.

– Só aquele “portunhol”…

– Não, eu não falava nada!

– Nada, nada?

– Nada, nada. E então eu peguei e descarreguei/baixei* Busuu, criei uma conta e peguei umas palavras, então, foi bem fácil, porque é bem parecido, e procurei por um professor privado em Bucaramanga, que é minha cidade. Eu agora estou morando em Santa Marta, mas Bucaramanga é a minha cidade. E ele ia uma vez na semana na minha casa, tipo, por seis meses, e depois eu fui pro Rio de Janeiro e eu achava que eu falava português, mas não falava nada.

Então, eu peguei lá… na PUC, eu fiz intercâmbio na PUC, mas antes de ter aulas de jornalismo, eu peguei um mês de português intensivo, e lá, tipo, eu cheguei, eu podia entender tudo que eu lia, mas o cari… eu até tenho meio um “sotaque”, mas o sotaque carioca é muito difícil! Muito! Então, eu falava tipo, é como quem quer aprender espanhol, mas vai para o Chile. É meio difícil, então… e lá eu morei um ano.

E agora, depois que eu falo um pouquinho, meu cérebro esquenta e pode falar direitinho, mas antes, como as duas línguas são bem parecidas e o meu dia todo era em português, eu só falava espanhol com minha roommate, minha companheira de apartamento, que é colombiana mesmo, mas a gente falava “portunhol”, porque falávamos: “¿Vamos a combinar, sí?”, tipo, misturávamos coisas que tem nas duas línguas, mas não porque a gente fizesse* confusão, mas sim* porque a gente gostava de falar assim. Eu lembro que quando eu voltei pra Colômbia, tipo, eu pensava em português. Então, eu fui pra um restaurante e falei pro moço em português.

– Isso é normal, acontece muito.

– E como é muito parecido, tipo, você está lendo o cardápio, então, eu lia o cardápio e para mim pareceu português, mas era espanhol mesmo.

– E nem precisa ser muito parecido. Eu lembro que… eu morava antes na Alemanha e agora eu moro na Espanha, e aí, nos primeiros dias aqui, eu sempre falava: “Oh, Entschuldigung, Entschuldigung” que é como “Me desculpa”, porque é automático, né? Você esbarra numa pessoa, tromba e já vem automático a reação. E também agora, quando eu fui visitar a minha família no Brasil, eu estava falando: “Oy perdona, oy perdona” também naturalmente. É estranho.

– Eu peguei uma… tipo gíria, mas não é gíria… eu peguei, assim, uma palavra que mesmo até hoje eu não sei se é bom falar lá em espanhol, porque existe mesmo, e eu falo e as pessoas entendem, mas eu não sei se eu falava antes que é… agora eu esqueci qual é, tinha na ponta da língua e esqueci! “Conseguiu!” Tipo, “conseguir” é um verbo em espanhol. Então, quando, tipo, alguém me fala: “Eu tenho que procurar…” sei lá, qualquer coisa, eu falo: “¿Conseguiste?”. Mas tipo, em espanhol você pode falar: “¿Lo conseguiste?”, mas é a ação de conseguir alguma coisa, tipo, vou procurar, dá certo. Mas: “- Vou tentar pular de um prédio pro outro. – Conseguiu?, ¿Conseguiste?”. Tipo, lá não é certo, mas eu falo assim também em espanhol mesmo.

– Isso é uma coisa confusa, né?! Tem vários desses verbos, que eles são ou exatamente o mesmo verbo, mas com um significado diferente, ou então substantivos também, não só verbos. Você lembra de alguns que te confundiam, alguns outros?

– “Esquisito/exquisito”. O conector “enquanto/en cuanto” é diferente e eu acho que eu… mesmo em português, eu uso como se fosse espanhol. Tipo, eu acho que nunca consegui usar “enquanto” em português, acho que eu usei sempre falando português o “en cuanto” espanhol. Tipo, em espanhol “buseta” é ônibus pequeno, então, tipo, sempre foi difícil isso aí. “Comprido” e “longo”, então, tipo, “longo” é diferente, porque, eu achava, tipo, “long”, pelo inglês, mas é “comprido”, então, isso é diferente.

– É, você usa pra algumas coisas, por exemplo: “Ela tem cabelos longos”, mas soa muito formal pra gente. Na língua mais falada, você pode falar: “Ela tem cabelo comprido”, é mais comum.

– Eu lembro muito, tipo, como isso se chama? Manga? Falam também?

– Manga da camisa.

– As roupas, manga. Então, “manga comprida”, “manga curta”, e eu falava “manga longa”.

– Ah, sim! Manga longa, eu acho que é o nome de um cavalo em português, se não me engano, mas muito legal.

– Ah e também, tipo, “se não me engano”, tipo, “engañar” tem em espanhol, e eu falava “se não me engaño, creo que”, mas ninguém fala assim.

– Sim, sim, sim. Muito interessante. Mas aí você ficou só um ano no Brasil e você fala assim?

– Bom, eu pensava que era pra eu falar bem melhor.

– Não, está ótimo. Está excelente.

– Obrigada. O que eu não consigo e nunca consegui bem foi escrever, porque a gramática escrita é bem diferente e, tipo, eu não tinha tanta oportunidade de escrever mesmo.

– Sim. Mesmo na universidade você não escrevia?           

– Então, eu fiz muita amizade com um amigo, que era brasileiro, e ele falava espanhol também. E eu não tinha impressora na minha casa, porque eu era estudante de intercâmbio, ele tinha impressora. E eu não sei porque, se era só na PUC, só em jornalismo, não sei, mas quase todos os trabalhos eram de duplas ou grupos, não era um trabalho que você fazia só. E meu amigo, ele não gostava de fazer as tarefas, mas eu fazia. Mas o que a gente combinou foi que eu fazia em espanhol e ele botava em português.

– Ah, caramba! Bom, faz sentido pra você, né? Você vai ser jornalista na Colômbia é bom você escrever em espanhol.

– É, bom, mas eu tinha que escrever em português, só que, tipo, eu fiz, assim, uma trapacinha*. Então, era um ganha-ganha para os dois, porque… bom… eu acho que os professores lá na PUC, tipo, seriam conscientes de que o português não era a minha língua, e na Colômbia, tipo, você escreve e qualquer erro ortográfico ou gramatical é um ponto que tiram.

– Claro, claro.

– Sim, então, eu não queria perder minhas notas por causa disso.

– Sim, sim, não, faz todo sentido. Mas aí, você, bom, depois de um ano, você voltou pra Colômbia, e você nunca mais voltou pro Brasil?

– Então, eu voltei no ano de* 2019, em novembro, fiquei três semanas e eu acho que nessas três semanas eu falei mais português do que em um ano, porque quando eu fiz intercâmbio, bom… o brasileiro é bem legal, mas o carioca, mesmo que seja legal, é um pouco mais fechado.

– Fechado? Nossa! Eles têm a fama no Brasil que são mais abertos do que os paulistas, por exemplo.

– Não. Então, nesse mês que eu fui, eu fui pra* Salvador da Bahia.

– Ah, sim! Não, o Nordeste é diferente.

– E no Nordeste, todo mundo queria falar com a gente. Mas quando eu cheguei no Brasil, vou te contar uma coisa. Tipo, chamar* alguém de “índio” na Colômbia é um insulto, tipo, quando alguém não tem educação. É um insulto racista, mas é um insulto mesmo. Tipo, você fala “ele não tem educação, ele é um índio”.

– Entendi.

– Sim? Ou falar que alguém tem, tipo, a beleza indígena, mesmo que seja lindo, se você falar que tem “cara de índio”, é ruim, sim? E eu lembro que eu… no primeiro dia de aula… de aula, tipo, de jornalismo, não de aula de português, eu era a única que era estrangeira na sala de aula, e tipo, a minha fisionomia dá para que as pessoas possam acreditar que eu sou brasileira, ou sou colombiana, ou sou mexicana, tipo, não é muito específica, não sei, é bem genérica a minha cara. Então, o professor fez uma pergunta para cada pessoa, e quando chegou em mim, tipo, eu tentei falar, e eles perceberam que eu era “gringa” pra eles.

Então, eu falei: “Não, eu sou de intercâmbio”. Então, falaram: “Ah, que legal, de intercâmbio! De onde?”, e eu falei: “Colômbia”, e eles: “Ah bom”, e continuaram pro seguinte*, tipo, eu esperei que me falassem* mais coisas, e eu falei: “Ok, ninguém se interessa aqui pela Colômbia”.

E depois, tipo, eu fiquei, assim, meio que assim chateada… não chateada, mas chata, sabe? Como “ninguém se interessou em* ser meu amigo”. E quando a aula acabou, uma menina ficou perto de mim e falou: “Você é da Colômbia?”, eu falei: “Sim!”, ela falou: “Que legal!”, eu falei: “Obrigada!”, e ela falou: “Mas você não parece da Colômbia”, e eu falei: “Não, por quê?”, e ela falou: “Porque você não tem tanta cara de índia”. Assim! “Tanta cara de índia”. Eu falei….

– Eu acho interessante isso, que…

– Mas depois eu soube que, tipo, falar “cara de índia” no Brasil não é mau como na Colômbia, é?

– Não, não é. Mas eu acho que… eu pelo menos, ou meus amigos ali em São Paulo, de onde eu sou, a gente geralmente não associa a Colômbia com essa aparência indígena. Geralmente a gente associa a Bolívia ou o Paraguai, talvez porque estão mais perto de São Paulo.

– E porque são mesmo, tipo, têm muito mais forte essa aparência também. É verdade. Mas tipo, eu falei: “se tivesse acontecido o contrário na Colômbia, tipo, todo mundo teria querido falar com uma estudante de intercâmbio”, e isso não aconteceu comigo. Então, não sei se foi pelo Rio, não sei se foi pela faculdade, não sei se foi… não sei, sei lá, mas eu não convivi* tanto como os brasileiros. Então, a PUC tinha muitos estudantes de intercâmbio, então, eu ia… pegar, jantar com muitos estudantes de intercâmbio, então, falava inglês, falava espanhol. Então, só falava português nas aulas.

– E não com pessoas fora, na balada?

– Não, não, muito pouco, muito pouco.

– Não teve nenhum namorado, namorada no Brasil?

– Não, nada, nada. E quando eu voltei no ano de* 2019, meu amigo que fazia tradução, ele… eu fui pra Bonito, fui pra São Paulo, fui pro Rio e fui pra Salvador. Então, ele falou: “Tá, eu chego em Salvador”. Ele ficou dois dias em Salvador e me apresentou a galera que ele conhecia, um cara que era do Rio que estava lá, ele me apresentou a namorada, que era de Salvador, e a namorada me apresentou toda a família dela, todos os amigos dela, tipo, acho que eu tenho mais pessoas de* Salvador, que eu conheci em três dias, quatro dias do que do Rio mesmo no Facebook ou Instagram. Então, eu falei muito mais português dessa vez que fui só três semanas do que eu falei no ano inteiro.

– Impressionante. Eu não imaginava que seria assim, porque pelo menos em São Paulo, a gente tem uma impressão que as pessoas do Rio são ligeiramente mais abertas, mas no Nordeste com certeza são muito mais do que qualquer outra parte do Brasil.

– É, pode ser o que eu falo, pode ser por causa* da faculdade, tipo, não da cultura da cidade, mas da faculdade mesmo.

– Pode ser, pode ser, realmente, porque é uma faculdade privada, é um pouquinho mais caro do que as outras faculdades ali.

– É, e as pessoas têm, tipo, não sei, pressa. Vão na aula, saem, tipo, mesmo entre eles, nem falavam.

– Sim, entendi. Mas María, a gente está batendo aqui vários minutos, está ficando longo. Muito obrigado pela participação, por aceitar bater esse papo aqui comigo. Foi muito legal. E se vocês quiserem, aí de casa, que a María volte aqui pra mais episódios, ou então outras pessoas, que eu convide também, escreve aí nos comentários, pra gente sempre ter novos convidados aqui, e pra você também aprender o português.

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– María, muito obrigado.

– Muito obrigada, Fabrício! E também, aguardo vocês, se quiserem aprender espanhol, lá no “Español con María”.

Com certeza. O link vai estar aqui na descrição do vídeo.

Até mais pessoal, tchau, tchau.