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Transcrição:

E aí, galera do Time to Learn Portuguese. Aqui é o Fabrício Carraro de novo, e no vídeo de hoje, a gente tem mais uma entrevista. Hoje, com uma grande amiga minha, que é a Mirella. 

E ela foi aeromoça por muitos anos em Dubai, viajando pelo mundo também, e hoje eu quero que ela conte pra gente em português como foi isso, como é ser uma aeromoça (uma comissária de bordo, na verdade).

  • Mas Mirella, como você tá? Tudo bem?
  • Oi, Fá! Tudo bem?
  • Tranquilo. Então, eu queria que você começasse contando pra gente de onde veio isso, né, de ser comissária de bordo. Era um sonho seu? De onde começou?
  • Acho que isso começou quando eu ainda era criança e eu ganhei de uma tia minha uma Barbie Aeromoça. Então, isso ficou a minha vida inteira, como eu sempre gostei muito de viajar, gostei sempre muito de outras culturas e de conhecer novas línguas e novos países.

    Então, depois, eu já formada em Engenharia, trabalhando com Engenharia, eu decidi mudar a minha carreira. E aí, eu saí da Engenharia e fui trabalhar na Emirates. Aí, pra isso, eu tive que vir morar em Dubai.
  • E como foi o processo seletivo pra você entrar na Emirates? Você tem que ter algum certificado antes? Você tem que fazer algum curso? Ou você pode se aplicar como qualquer pessoa?
  • Pra muitas companhias, principalmente as companhias aéreas brasileiras, você precisa ter um curso inicial, que é o curso da ANAC, onde você faz toda uma certificação de 4 a 5 meses; depois, uma prova final, pra ter certificado antes de aplicar pras companhias aéreas.

    Com as companhias internacionais, isso já é o contrário. As companhias, elas querem fazer um curso delas, interno. Então, você não precisa de curso nenhum. Você precisa ter mais de 21 anos, falar inglês (na maioria delas) ou a língua específica da companhia, e ter um certo… uma certa altura que é especificada por eles, pra você alcançar os equipamentos de segurança dentro do avião.


Então, você não tem que ter uma altura certa, mas você tem que alcançar 2 metros e 10 de altura, pra você alcançar os equipamentos de segurança no avião. Então, é isso, só essas três requisições, e o resto é só ir pra entrevista e esperar que eles gostem de você.

  • Legal! E quantos anos você trabalhou como aeromoça?
  • Eu trabalhei 4 anos com a Emirates.
  • Legal. E esse começo, assim, na profissão… eu imagino que seja muito empolgante, né? Porque você está viajando o mundo, sempre pessoas novas no avião, outros comissários, os pilotos e tudo mais. É uma coisa um pouco glamourosa ainda na mentalidade das pessoas. Mas pra você, era uma coisa glamurosa também ou não?
  • Ah, eu acho que pra mim foi, pela companhia que eu trabalhei, por ser tão reconhecida no mundo. Então… as comissárias hoje em dia, elas não são mais vistas como antigamente, como essa profissão glamurosa, a não ser que você esteja numa companhia mais reconhecida. Aí, eu acho que as pessoas ainda veem com esses olhos.

    Mas ela já é uma profissão que ela… pelo contrário, as pessoas chamam muito de “garçonete de avião”. Então, tem um preconceito muito grande com a profissão. Mas pra mim, eu sempre tive vontade, então, eu imagino que não só porque eu trabalhei na Emirates, mas se eu estivesse em outras companhias melhores, eu ia estar feliz.

    Então, pra mim, é onde eu queria estar e fazendo aquilo que eu queria estar fazendo. Então, foi muito legal.
  • E eu quero que você conte também algumas histórias, porque o pessoal sempre acha coisas loucas, né? Que deve acontecer muitas loucuras dentro do avião. Ou então, fora do avião também, nessas paradas que as pessoas fazem, né? Ficar 24 horas num país. Quais foram as histórias mais interessantes, mais engraçadas que aconteceram com você?


  • Ixi, tem muitas! Eu falo que em 4 anos a gente vai colecionando histórias, assim. Eu acho que… uma delas foi uma passageira que nós tivemos uma vez. Eu estava voando há menos de dois meses, e entrou uma passageira e ela tava estava muito perturbada, assim, com alguma coisa ao redor dela, mas ela não não falava a língua de ninguém ali, porque ela não era nem daquele país de onde ela estava saindo.


Então, sempre tem alguém no voo que fala a língua do país, que fala inglês, que fala muitas outras línguas, mas nós não estávamos conseguindo nem descobrir qual língua ela falava. E ela estava abraçada com uma mala, assim… e ela não deixava ninguém tirar a mala dela.

Então, nós queríamos colocar no bagageiro em cima e ela não deixava, ela começava a gritar todas as vezes que alguém mexia na mala dela. E aí, ficou aquela discussão de: “Tira ela? Chama a polícia? O que que a gente faz? O que que tem nessa mala?”

E aí, o capitão já estava bravo, já estava irritado que o voo estava atrasado, e a gente percebeu que, na verdade, ela não era nenhuma ameaça pra ninguém, assim, né? Então, ela devia ter algum tipo de problemas, assim, mais psicológicos, né, acontecendo na vida dela ali.


Então, ele falou: “Não, então, vamos, vamos decolar. Só coloca um dos comissários na poltrona oposta a ela do corredor, pra ficar meio de olho nela”. Aí, adivinha quem, né, que eles escolheram? A novata ali, que estava só há dois meses.


E aí, me falaram… as instruções foram pra eu ficar só de olho nela, ver como ela iria estar reagindo durante a decolagem, mais pra segurança dela também, porque ela estava muito eufórica, muito ansiosa. E aí, durante a decolagem, ela começou a se acalmar, então, eu comecei a acalmar também.


Nisso, ela começou a cantar! Mas ela começou a cantar muito alto! E aí, eu comecei a ficar mais desesperada ainda. Todos os passageiros olhando pra ela, e olhavam pra mim querendo uma atitude minha, e eu não sabia nem o que fazer. E eu só pensava: “Se ela for encostar nessa mala, eu vou começar a gritar!”.

Então, foi uma situação, assim… eu não sabia… acho que ninguém, mesmo com muitos anos de experiência, você não saberia como agir nessa situação, mas eu fiquei, assim, horrorizada de estar naquela posição.

Eu falei: “Gente, o que que eu posso fazer agora?”. Então, foram menos de 10 minutos de decolagem e tudo, entre taxiamento e decolagem, mas foram os 10 minutos mais longos, acho, que eu já passei.

E tem muitas histórias. Acho que as partes mais engraçadas são como as pessoas reagem dentro do avião. Então, são pedidos e requisições, assim, que são engraçadas de… “Eu quero ter um banheiro só pra mim dentro do avião”, ou “Com esse meu passaporte eu tenho direito a um banheiro exclusivo”, ou “Eu não quero essa comida, eu quero um hambúrguer” – aí, você fala: “Não, mas a gente não cozinha aqui dentro do avião”… “Não, dá um jeito!”

Então, como é que… eu não tenho como ligar pra McDonald’s e pedir pra entregar aqui um hambúrguer pra você.

  • Fazer um jatinho delivery.
  • Um jatinho… a gente só abre a porta, pega o delivery e fecha a porta de novo.

  • E nesses tempos aí, entre voos, né, que vocês ficam geralmente 24 horas, se não me engano, ou 48 horas no país esperando o próximo voo pra voltar pra casa, né? Esses tempos, vocês ficam sempre junto com os outros comissários de bordo? Vocês vão fazer festa? Fica todo mundo bebaço? Como funciona?
  • Depende muito de cada país, cada tripulação, cada comissário. Eu pousava no país e, por mais que eu já tivesse conhecido o lugar 500 vezes, eu chegava no hotel, tomava um banho, trocava de roupa, tirava o cheiro de avião (que a gente fala) e ia passear. Nem que fosse pra andar pelo país, que fosse pra ir no mercado fazer compra, porque a gente…

Aqui em Dubai, a qualidade de frutas e legumes é muito pequena, né? Tudo muito congelado. Então, nem que fosse pra ir no supermercado e voltar, eu sempre saía. Mas tem muitos comissários que preferem ficar dentro do hotel, né?


E tem muitas vezes que nós saímos em grupo. Então, assim, junta muitos comentários e vai todo mundo. Você vai conhecendo… você começa a fazer amizades expressas (que a gente fala), que você conhece a pessoa no voo e, aquela duração do voo, você vai saber quem é a pessoa que você consegue se conectar melhor pra você sair ali (com) todo mundo.


Então, cada um, durante o voo de ida, faz os planos e se junta em grupos ou não pra decidir quem vai sair, o que vai fazer. Então, você conhece as pessoas e você cria ali uma amizade muito rápida e um vínculo que permite com que naquelas 24/48 horas que você vai estar no país, vocês saiam juntos, você…


Então, muita gente vai pra visitar pontos históricos da cidade, ou vai comer, dependendo do lugar. Então, se é Itália, as pessoas geralmente vão comer, mais do que qualquer outra coisa. Tem muitos países onde a gente nem pode sair do hotel.


Então, a Nigéria é um exemplo de que eles fazem a escolta policial até o hotel, e os comentários, eles são “proibidos” de sair do hotel. Tem algumas pessoas que saem, porque tem umas festas que são famosas, assim. Porque lá, a população… é um extremo, né? Ou é muito pobre, ou é muito rica.


Então, alguns comissários iam nessas festas da alta classe da Nigéria, mas eu nunca fui, assim, eu sempre fiquei meio com medo… não dá segurança, porque eu imagino que, se você (não) se cuida, (em) qualquer país é possível acontecer alguma coisa.


Mas mais pelo meu emprego, porque a companhia não recomenda você a sair, e ali, é meio que proibido mesmo. Então, eu sempre fiquei no hotel mesmo.

  • E você mencionou dos vínculos rápidos, né, efêmeros talvez, passageiros com os outros comissários. Mas esses vínculos existem também com passageiros? De você conhecer uma pessoa, um passageiro muito simpático, uma passageira muito simpática durante o voo e marcar de fazer alguma coisa na cidade.
  • Olha, comigo nunca aconteceu, mas eu conheci já vários amigos que aconteceu isso… de… comentou com o passageiro de que estava… ia sair, e aí, o passageiro: “Ah, eu vou numa festa hoje”, “Ah, então vamos todo mundo!”


E aí, marcou tripulação, passageiro, todo mundo de ir na festa. Então, assim, comigo nunca aconteceu, mas eu tenho vários amigos… E não só isso, né? Também, eu tenho… eu tenho uma amiga que acabou de ter uma bebê agora, e ela conheceu o marido dela num voo.


Ele estava de passageiro, eles estavam indo pros Estados Unidos – ele é de lá. E aí, eles foram tomar um café, mantiveram contato. Ele estava morando aqui em Dubai na época. E agora, eles estão lá. Eles casaram e estão morando lá.


Então, você usa aquele momento… acho que todo mundo está numa situação fora do normal. Você está preso num tubo no ar. Então, as coisas acontecem muito diferente ali dentro. É uma dinâmica muito diferente.


Então… eu já tive muitas vezes pessoas usando… me usando como psicóloga ali, que te pega pra desabafar sobre alguma coisa, ou pra conversar sobre algo, pra dividir, compartilhar experiências.

Então, você vai ali de garçonete, psicóloga e enfermeira, porque muitas vezes tem… existem casos médicos que acontecem dentro do avião. Então, as posições que você tem ali dentro são muitas.

  • Maravilha! Eu acho que a gente poderia ficar 2 horas, 4 horas conversando aqui, mas claro, eu não quero ter um vídeo muito grande pra vocês aí de casa. Então, eu vou fechar essa primeira parte aqui da conversa com a Mirella aqui mesmo.


Se vocês gostarem, se vocês quiserem, escrevam aqui embaixo nos comentários pedindo pra Mirella voltar aqui pro canal, pra contar mais histórias de como é ser uma aeromoça da Emirates por esses 4 anos que ela trabalhou lá.

E claro, chegando aqui no final do nosso vídeo, como sempre, se você quiser colaborar com o canal “Time to Learn Portuguese”, eu tenho um Patreon! E você pode colaborar com o valor que você quiser, que você acha que o canal merece, para eu continuar sempre fazendo vídeos novos interessantes, com a legenda para vocês lerem em português, com o arquivo PDF, tudo totalmente grátis. O link do Patreon está aqui na descrição desse vídeo.

  • E eu acho que por hoje é isso. Muito obrigado, Mirella!
  • Obrigada, Fabrício!
  • Até mais, pessoal! Tchau tchau.